Política & Mundo
Bachelet na ONU: O longo caminho para uma candidatura apressada
Redação
28 de setembro de 2025

A ex-presidente Michelle Bachelet confirmou formalmente sua intenção de concorrer à Secretaria Geral da Organização das Nações Unidas em 20 de setembro, após meses de indecisão que mantiveram o cenário político internacional em suspense. A decisão, comunicada pessoalmente ao presidente Gabriel Boric, marcou o início de uma campanha que se desenvolve em ritmo acelerado, contrastando com os planos originais da própria Bachelet de manter a incerteza até dezembro para evitar contaminações do clima eleitoral chileno.
O processo de definição da candidatura envolveu gestões pessoais da ex-presidente, incluindo conversas reservadas com potenciais concorrentes. Em agosto, durante eventos no México, Bachelet manteve diálogos com a ministra do Meio Ambiente mexicana, Alicia Bárcenas, que havia recebido apoio da presidente Claudia Sheinbaum para lançar sua própria candidatura. Fontes próximas a Bachelet afirmam que Bárcenas teria garantido que não se apresentaria caso a ex-presidente chilena oficializasse sua postulação, eliminando uma das principais concorrentes latino-americanas.
O governo chileno acelerou o anúncio da candidatura por razões estratégicas internas e externas. Avaliava-se que o impacto seria maior se feito durante o discurso de Boric na Assembleia Geral da ONU, além de desincentivar outros países a formalizarem candidaturas próprias. Internamente, o anúncio antecipado garantia o comprometimento do atual governo nos próximos seis meses, período crucial para angariar apoios antes da posse de um novo governo em março de 2026.
A forma como o governo conduziu o processo gerou críticas da oposição e de ex-chanceleres. O conselho de ex-chanceleres, que reúne seis ex-ministros de governos de oposição, não foi adequadamente consultado sobre a decisão, segundo relatos dos próprios participantes. O ex-subsecretário de Relações Exteriores Alfonso Silva classificou como erro a falta de socialização, destacando que "uma candidatura à Secretaria Geral da ONU vai hipotecar os apoios de Chile de por vida" e exigiria renúncia a postulações em outros organismos internacionais.
As eleições para suceder o atual secretário-geral António Guterres, cujo mandato termina em dezembro de 2026, devem ocorrer no primeiro trimestre do próximo ano, com possibilidade de antecipação para outubro. Bachelet busca tornar-se a primeira mulher a ocupar o cargo principal da ONU em 80 anos de história, em um contexto marcado pelo retorno de Donald Trump à Casa Branca e seus impactos no financiamento da organização.




