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Política & Mundo

Jorge Vaz

Vereador de Belém

Brasil, vai desculpando qualquer coisa

12 de novembro de 2025

Antes de qualquer coisa, é preciso pedir desculpas. De forma humilde, mansa e direta: desculpem-nos. Sem medo de admitir que erramos, falhamos e, de maneira escancarada, não há justificativa.

 

Nós todos, amazônidas residentes na capital do Estado do Pará, estendo isso a todo o Norte do país, precisamos colocar o dedo na ferida e ser justos com nossos irmãos de nação do Sul e do Sudeste do Brasil.

 

Erramos primeiro quando nos tornamos postulantes a sediar um evento de magnitude internacional, com a presença de grandes líderes para decidir as pautas climáticas do mundo. Como poderia ser possível que um evento desse porte não caísse na mesmice tediosa dos prédios cinzas de São Paulo ou no turismo tradicional e repetitivo do Rio de Janeiro, com a foto obrigatória no Cristo?

 

Mas tudo bem, a sede foi escolhida. Agora, seria de grande mesquinharia nos incomodarmos com os “ataques programáticos” (só faltou escrever “parceria paga” nas postagens) publicados nos mais variados tabloides do eixo.

 

Como poderíamos esquecer da reportagem do premiado “Profissão Repórter” chegando a um local, que enfrenta, sim, desafios geracionais, em um barquinho pelo rio. O curioso é: o local tem fácil acesso por carro e está no centro da cidade.

 

Como é possível que uma cidade possua problemas? Questões estruturais, moradias irregulares, déficit no saneamento básico. Evidente que tais pautas já foram superadas no Rio de Janeiro, e a nossa cidade das mangueiras parece ser o único lugar que ainda enfrenta tais desafios urbanos.

 

Todavia, o evento foi confirmado mesmo com todos os esforços contrários. E ainda o denominaram como a “COP da Floresta”. Nome que, aliás, poderia ser usado também no Sudeste, já que a região ainda abriga cerca de 12% da Mata Atlântica original no Brasil, e o Rio Tietê, limpíssimo, é um exemplo precioso de governança ambiental e saneamento.

 

Dessa forma, hoje nos resta implorar o vosso perdão por termos recebido um pouco do investimento que historicamente beneficiou apenas os vossos estados, e que ainda assim continuam enfrentando inúmeras contradições.

 

Em pouco menos de dois anos, vimos nossa cidade se transformar, alcançando não apenas o centro urbano, mas também as comunidades historicamente esquecidas pelo poder público, potencializando o desenvolvimento e repensando a forma de viver Belém.

 

Hoje, enxergamos o vosso descontentamento de perto. Antes mesmo do início oficial do evento, ainda se ouviam máquinas trabalhando no local onde tudo está acontecendo. Algo completamente inimaginável em São Paulo, onde a Arena Corinthians, palco do jogo de abertura da Copa de 2014, ainda estava com instalações inacabadas quando o torneio começou e até hoje enfrenta problemas de manutenção e uso sustentável.

 

E o que dizer do preço da coxinha? O jornalismo investigativo da CNN, digno do The New York Times, entre todas as opções de alimentação internas, encontrou um estabelecimento cobrando um pouco mais do que o habitual. Talvez facilite o processo de cura e perdão do jornalista se lembrarmos: ele não estava passeando na feira procurando um “completo”. Ele estava dentro da Blue Zone, onde os maiores líderes mundiais consomem, e todo o custo foi calculado em dólar, refletindo inclusive no aluguel que os empreendedores pagaram pelo espaço.

 

Diante disso, prometemos: na próxima, ignoraremos a lei da oferta e da procura e forneceremos a coxinha com suco por um preço mais acessível. E esperamos que, no aeroporto de Guarulhos ou na praça de alimentação de Interlagos, quando você for cobrir o evento, tenha o mesmo ímpeto de justiça.

 

Enfim, com muita insistência nossa, a COP chegou e começou. Reitero nosso pedido de desculpas por também fazermos parte deste país e reivindicarmos, pelo menos uma vez, a chance de sermos protagonistas fora da lógica histórica da velha República do “Café com Leite”.

 

Hoje, as paralelas de Humberto Gessinger finalmente não se cruzaram em Belém, e contra a vontade de muitos, entramos no mapa, apesar de ainda sermos, simbolicamente ou não, a estrela solitária acima do Ordem e Progresso.

 

Pedimos, finalmente, desculpas pelo intemperie e por vocês não estarem passeando na Paulista ou no Leblon, como se estivessem no Brasil do PROJAC. Mas se não for pedir demais, quando forem fingir consciência ambiental no Instagram, deem uma oportunidade de mostrar a verdadeira Belém, com seus encantos, particularidades, diferenças e desafios também, o que é justo de ser reivindicado.

 

O mundo já nos viu. Quem sabe vocês também nos enxerguem.

 

Sejam bem-vindos à Amazônia, e como todo bom anfitrião da terra costuma dizer: vai desculpando qualquer coisa.


FOTO DE SERGIO CORREIA/COP30


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