Negócios & Transformação
Como navegar entre os títulos do Tesouro em um Brasil de juros alto
Redação
21 de agosto de 2025

Com a taxa Selic estacionada em 15% e o Tesouro Prefixado 2028 oferecendo 13,43% ao ano, investidores brasileiros se veem diante de um dilema clássico, mas cada vez mais complexo: como distribuir recursos entre modalidades prefixadas, pós-fixadas e híbridas. A decisão vai muito além de uma simples comparação de rentabilidades nominais. Ela exige um olhar atento ao horizonte temporal, à tolerância ao risco e, sobretudo, à capacidade de cada investidor de lidar com a volatilidade dos ciclos econômicos.
No universo da renda fixa, cada modalidade carrega consigo virtudes e armadilhas. Os papéis prefixados oferecem previsibilidade: o investidor sabe exatamente quanto receberá no vencimento, como no caso do Tesouro Prefixado 2028, que garante 13,43% anuais. Essa certeza, porém, é também seu maior risco. Se a inflação acelerar além do previsto, o ganho real pode ser corroído, transformando a segurança aparente em fragilidade silenciosa.
Já os títulos pós-fixados, como o Tesouro Selic, acompanham diretamente a taxa básica de juros, transferindo para o investidor o risco – e a oportunidade – da oscilação monetária. Em ciclos de aperto, os rendimentos tendem a superar expectativas, mas em fases de afrouxamento podem perder competitividade frente a opções prefixadas. A vantagem é a liquidez: por serem considerados o único tipo de renda fixa imune a perdas em resgates antecipados, tornam-se a escolha natural para reservas de emergência.
Entre os dois extremos surgem os instrumentos híbridos, que mesclam uma taxa prefixada com correção pela inflação, como no Tesouro IPCA 2029, atualmente em IPCA + 7,85% ao ano. Nesse modelo, o investidor assegura proteção contra a alta de preços e ainda garante retorno real. Trata-se de um meio-termo: menos exposto às surpresas inflacionárias que o prefixado, mas sem a liquidez plena do pós-fixado.
A escolha, portanto, não se resume ao apetite de risco, mas ao tempo. Quem pode manter o capital até o vencimento encontra nos prefixados e híbridos oportunidades de ganhos expressivos, ainda que sujeitos a volatilidade de curto prazo. Já quem precisa preservar flexibilidade encontra nos pós-fixados a segurança de não incorrer em perdas ao resgatar antes do prazo. É por isso que especialistas reforçam: o prazo de permanência é a variável-chave para definir a melhor alocação.
O desafio é que, em economia, o futuro é sempre incerto. Se a Selic permanecer em níveis elevados por mais tempo do que o projetado, os pós-fixados tendem a entregar resultados superiores. Mas, caso o Banco Central promova cortes mais agressivos na taxa básica, prefixados e híbridos podem se destacar. É justamente essa incerteza estrutural que leva muitos gestores a defenderem a diversificação como estratégia central.
A lógica é clara: em um portfólio diversificado, a desvantagem de uma modalidade tende a ser compensada pela vantagem de outra. O resultado final não será o ápice de nenhuma das escolhas isoladas, mas um equilíbrio capaz de suavizar riscos e amortecer choques externos. Em um cenário em que inflação e juros seguem imprevisíveis, esse pode ser o antídoto mais racional.
Concentrar todos os recursos em prefixados, por exemplo, pode ser arriscado. Uma escalada inflacionária inesperada é capaz de corroer integralmente o ganho real. Nos híbridos, esse risco é mitigado pela indexação ao IPCA, e nos pós-fixados, pela sintonia com a política monetária. Já na prática, os investidores sofisticados costumam distribuir suas apostas, ajustando as proporções conforme expectativas de mercado e objetivos pessoais.
O movimento recente do mercado aponta justamente para essa sofisticação crescente. Investidores institucionais e mesmo pessoas físicas estão buscando combinações mais inteligentes de papéis de renda fixa, em busca do equilíbrio entre proteção e retorno. Com a perspectiva de uma normalização gradual da política monetária, as decisões tomadas hoje podem se refletir em ganhos – ou perdas – ao longo dos próximos anos.
A lição final permanece atual e simples: se há chance de precisar do dinheiro antes do vencimento, não hesite – o investimento deve ser pós-fixado. Se a estratégia é de longo prazo, prefixados e híbridos entram no radar. E se a meta é proteger-se contra o imprevisível, diversificar entre os três caminhos talvez seja a escolha mais prudente.




