Política & Mundo
EUA perdem cientistas para a Europa após cortes de Trump
Redação
1 de outubro de 2025

As decisões do governo Donald Trump na área científica provocaram um movimento migratório sem precedentes entre pesquisadores americanos. De acordo com dados divulgados pelo Politico, o número de inscrições de cientistas dos Estados Unidos em programas de financiamento europeus quintuplicou na rodada mais recente, indicando uma fuga de cérebros acelerada por cortes orçamentários, barreiras migratórias e incertezas institucionais.
A União Europeia aproveitou o momento para se posicionar como novo polo de atração global. Sob a liderança de Ursula von der Leyen, a Comissão Europeia ampliou significativamente o apoio financeiro a acadêmicos que deixam os EUA, destinando inicialmente €200 milhões em recursos adicionais e projetando €450 milhões em cinco anos. O Conselho Europeu de Pesquisa tornou-se o principal vetor desse esforço, atuando como porto seguro para talentos deslocados pelas mudanças no ambiente científico americano.
Entre as medidas adotadas pela administração Trump que impactaram a comunidade científica estão o congelamento ou redução de verbas de agências federais, como os Institutos Nacionais de Saúde (NIH) e a Fundação Nacional de Ciência (NSF), além de mudanças severas nas políticas de imigração e concessão de vistos para estudantes e pesquisadores estrangeiros. A Casa Branca também interferiu em comitês científicos e limitou o acesso público a dados ambientais, o que aumentou a percepção de insegurança e desvalorização da ciência no país.
O impacto é visível. Foram registradas 114 candidaturas americanas aos editais europeus na última rodada, contra apenas 23 no ano anterior — salto de 400%. O crescimento contrasta com o aumento geral de 31% no total de inscrições, evidenciando o interesse desproporcional de pesquisadores dos EUA. Programas nacionais também seguem essa tendência: a Áustria, por exemplo, já acolheu 25 cientistas desde junho, reforçando seus centros de pesquisa com novas perspectivas e redes internacionais.
A movimentação não se limita à Europa Central. Segundo a comissária europeia de Pesquisa, Katrina Zahariva, mais de 70 programas nacionais e regionais foram criados para atrair talentos estrangeiros, ampliando a competitividade europeia frente à retração americana. Revistas científicas como a Nature observam queda expressiva na procura de pesquisadores estrangeiros por bolsas de pós-graduação nos EUA, ao mesmo tempo em que cresce o interesse de americanos por oportunidades no exterior.
Nos Estados Unidos, líderes acadêmicos alertam para as consequências estruturais desse êxodo. Instituições de ponta enfrentam dificuldades crescentes para organizar eventos científicos internacionais, diante da recusa de pesquisadores estrangeiros em viajar para o país por receio das políticas migratórias. Estudantes internacionais também hesitam em deixar os EUA, temendo problemas para retornar, o que compromete a dinâmica de intercâmbio científico.
Marcia McNutt, presidente da Academia Nacional de Ciências, reconhece que países como China e membros da União Europeia oferecem condições de carreira mais estáveis para jovens pesquisadores. Para ela, esse cenário cria um ambiente favorável para que outros centros científicos passem a recrutar os profissionais mais talentosos e experientes, desafiando a liderança americana em áreas estratégicas da pesquisa global.
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