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Sustentabilidade & Futuro

“Transição justa só é possível com novos empregos verdes”, afirma representante da Malásia na COP-30

Gustavo Freitas

18 de novembro de 2025


A Malásia pode parecer um ator distante para o público brasileiro, e a sigla ASEAN raramente ocupa espaço no noticiário nacional. Mas a Associação das Nações do Sudeste Asiático, que reúne 11 países, já se consolidou como uma das regiões mais promissoras para a economia global. Na COP-30, em Belém, essa força aparece de forma organizada, e a Malásia, que ocupa a presidência rotativa da ASEAN em 2025, assume o papel de porta-voz de um grupo que soma cerca de 700 milhões de habitantes e um PIB combinado superior a US$ 3,6 trilhões, tornando o Sudeste Asiático a quinta maior economia do mundo.


É desse ponto de partida que entra Datuk Nor Yahati binti Awang, vice-secretária-geral para Sustentabilidade Ambiental do Ministério de Recursos Naturais e Sustentabilidade da Malásia. Alta funcionária de carreira, ela atua diretamente na formulação da política climática do país e coordena a articulação técnica da Malásia na implementação do Acordo de Paris. Em Belém, concedeu entrevista exclusiva ao O FLUXO no pavilhão malaio, explicando o peso estratégico da região no debate climático global.


Segundo ela, presidir a ASEAN justamente no ano da COP sediada na Amazônia criou um alinhamento raro entre regiões tropicais. Sob liderança malaia, o bloco coordena posições comuns sobre financiamento climático, adaptação e tecnologias de baixo carbono, áreas que normalmente fragmentam países em desenvolvimento. “Nosso papel é garantir que as necessidades do Sudeste Asiático sejam representadas de forma clara e consistente nas negociações internacionais”, afirmou. A declaração sintetiza um movimento maior: a ASEAN quer deixar de apenas reagir ao debate climático para começar a moldá-lo.


A Malásia chegou a Belém com esse propósito evidente. O pavilhão nacional, inaugurado na primeira semana da Conferência, apresenta o lema Climate Action Now: Net Zero Pathways Unlocked e busca mostrar o país como uma economia em transição, disposta a unir ambição climática, políticas públicas e engajamento do setor privado. O governo tenta comunicar algo simples, mas raro: sair do discurso e demonstrar capacidade de implementação.


A vice-secretária-geral reconhece que o planeta ainda está longe de cumprir a meta de 1,5°C. Por isso, a Malásia atualizou sua NDC e trabalha, internamente, em um projeto de lei climática que alinhe obrigações nacionais ao que o país defende nas conferências. “É preciso transformar compromissos em medidas mensuráveis. COP30 é o momento de provar que isso é possível”, disse.


O financiamento climático domina a posição malaia. Em linha com o que vários países do Sul Global vêm defendendo em Belém, Nor Yahati reforça a urgência de tornar previsível e acessível o novo objetivo financeiro global, que está sendo negociado no chamado Roteiro Baku–Belém. As discussões avançam em torno de um valor estimado em cerca de US$ 1,3 trilhão anuais, que substituirá o antigo compromisso dos US$ 100 bilhões. Para ela, esse número precisa ser compatível com a realidade de países emergentes: “Sem um fluxo financeiramente estável, não haverá transição justa nem adaptação robusta”.


Outro ponto sensível destacado pela representante malaia é a proteção de trabalhadores e comunidades na transição para uma economia verde. O país defende que a mudança de matriz energética deve vir acompanhada de empregos qualificados, qualificação profissional e mecanismos que evitem que grupos vulneráveis fiquem para trás. É um posicionamento em sintonia com debates que se intensificaram nesta segunda semana da COP-30, marcada também por protestos de movimentos sociais e cobranças mais duras sobre justiça climática.


A Malásia também tenta aproximar a ASEAN de países tropicais que enfrentam desafios semelhantes, como Brasil e República Democrática do Congo. A vice-secretária-geral citou a reunião entre ministros do Meio Ambiente do Sudeste Asiático e o presidente-designado da COP-30, embaixador André Corrêa do Lago, em outubro, como um ponto de virada. O encontro selou o apoio da ASEAN à chamada “COP da Amazônia” e reforçou a importância da cooperação Sul-Sul, especialmente entre nações que preservam algumas das maiores extensões de floresta tropical do planeta.


No conjunto, a presença da Malásia na COP-30 reforça a tentativa do Sudeste Asiático de ocupar um espaço mais definido nas negociações climáticas. Com uma agenda voltada para financiamento, adaptação e transição justa, o país utiliza a presidência da ASEAN para articular posições regionais e ampliar a cooperação entre países tropicais.

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