Sustentabilidade & Futuro
O novo tabuleiro da transição: a aposta do Fórum Econômico Mundial em quadruplicar combustíveis limpos até 2035
Gustavo Freitas
19 de novembro de 2025

O Fórum Econômico Mundial lançou recentemente uma meta que tenta reposicionar a conversa global sobre transição energética: quadruplicar a produção de combustíveis limpos até 2035. A proposta nasce de uma preocupação direta com setores cuja descarbonização avança em ritmo lento - aviação e navegação, por exemplo - e busca transformar expectativas dispersas em um horizonte comum.
A iniciativa ganha força porque emerge de um espaço que influencia a agenda pública e privada ao mesmo tempo. Combustíveis limpos como hidrogênio verde, combustíveis sintéticos e biocombustíveis avançados, ainda enfrentam custos elevados e cadeias logísticas incipientes, mas são fundamentais para os setores que não podem se apoiar apenas em eletrificação direta. O Fórum sustenta que acelerar essas tecnologias agora é uma forma de impedir novos ciclos de atraso, construindo desde já os alicerces de um mercado que tende a crescer rapidamente.
O pano de fundo dessa proposta é claramente geopolítico. Países que se anteciparam ao hidrogênio renovável, como Austrália e Chile, enxergam em 2035 um ponto de virada capaz de consolidar influência em rotas energéticas que ainda estão sendo desenhadas.
A Europa vê na meta uma saída para ampliar sua autonomia após a ruptura com o gás russo, enquanto a China mobiliza suas empresas estatais para dominar a produção de eletrolisadores, armazenagem de amônia e novas cadeias industriais.
A disputa se amplia porque o futuro desses combustíveis pode redesenhar dependências e criar novas zonas de competição estratégica.
Há também um desafio financeiro que o Fórum faz questão de destacar. Quadruplicar combustíveis limpos exige investimentos volumosos, contratos de demanda previsível, infraestrutura portuária e corredores industriais capazes de lidar com novas moléculas energéticas. Países em desenvolvimento pedem que essa expansão não repita modelos antigos, em que recursos naturais saem a baixo custo enquanto valor agregado se concentra em poucos mercados.
A transição energética só se sustenta se gerar oportunidades distribuídas, e não apenas mais uma rodada de assimetrias.
Para a América Latina - e especialmente para o Brasil - essa proposta funciona como uma janela de oportunidade e um teste de ambição. O país dispõe de potencial renovável, experiência em biocombustíveis e capacidade industrial para participar das cadeias globais, mas ainda não definiu com clareza qual papel pretende assumir.
A meta do Fórum pressiona por escolhas que vão muito além da retórica: padrões de certificação, planejamento logístico, segurança regulatória e integração entre setores que historicamente caminham de forma isolada.
A proposta apresentada pelo Fórum Econômico Mundial sinaliza um esforço para reorganizar prioridades num momento em que a transição energética se tornou um terreno de disputas estratégicas. Quadruplicar combustíveis limpos até 2035 projeta um novo tabuleiro no qual tecnologia, diplomacia e capacidade industrial passam a andar juntas.
Se governos e empresas decidirem avançar nesse sentido, o debate climático ganha uma dimensão mais concreta e o mercado começa a ser moldado pelas escolhas que definirão quem ocupará espaço na economia pós-petróleo.




