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Tribunal do Líbano ordena libertação de filho de Gaddafi sob fiança de US$ 11 milhões
Redação
18 de outubro de 2025

Um tribunal libanês determinou a libertação sob fiança de Hannibal Gaddafi, filho mais novo do falecido líder líbio Muammar Gaddafi, após quase uma década de detenção preventiva sem julgamento. A decisão judicial, confirmada pela Agência Nacional de Notícias do Líbano, estabelece uma fiança de US$ 11 milhões e impõe proibição de viagem ao acusado, em um caso que permanece como um dos mais sensíveis nas relações entre Líbano e Líbia.
O processo contra Hannibal Gaddafi está diretamente vinculado ao desaparecimento de Musa al-Sadr, líder religioso xiita libanês de grande influência política, que sumiu durante visita à Líbia em 1978 junto com um assessor e um jornalista. A ausência de respostas sobre o paradeiro de al-Sadr criou décadas de tensão diplomática entre os dois países e gerou múltiplas teorias sobre o envolvimento do regime de Muammar Gaddafi no episódio.
A reação à decisão judicial foi imediata e divergente. Laurent Bayon, advogado de Gaddafi, qualificou a medida como "totalmente inaceitável em um caso de detenção arbitrária" e anunciou que irá contestar a fiança. Bayon argumentou que seu cliente "está sob sanções internacionais" e questionou: "Onde você quer que ele encontre US$ 11 milhões?" A posição do defensor reflete as complexidades jurídicas e políticas que envolvem o caso.
Em contrapartida, a família al-Sadr emitiu comunicado expressando "surpresa" com a decisão de libertação, embora tenha afirmado que "não interferirá hoje na decisão do juiz de soltá-lo". A declaração familiar esclareceu que "a prisão ou libertação de Hannibal Gaddafi não é nosso objetivo, mas sim um mero procedimento legal. Nossa questão principal é o desaparecimento do imã [al-Sadr]".
O contexto histórico revela contradições significativas: Hannibal Gaddafi tinha aproximadamente dois anos de idade quando Musa al-Sadr desapareceu na Líbia em 1978. Apesar disso, autoridades libanesas o prenderam em 2015 acusando-o de reter informações sobre o caso. Esta detenção prolongada sem julgamento levou a Human Rights Watch a exigir, em agosto, a libertação imediata de Gaddafi, argumentando que ele estava preso injustamente com base em "alegações aparentemente infundadas de que estava retendo informações" sobre al-Sadr.
As implicações geopolíticas do caso estendem-se além das fronteiras nacionais. Nabih Berri, presidente do parlamento libanês que sucedeu al-Sadr na liderança do Movimento Amal, acusou repetidamente as novas autoridades líbias de não cooperarem na investigação do desaparecimento - acusação que a Líbia nega. Em 2023, o procurador-geral líbio Al-Sediq al-Sour enviou pedido formal às autoridades libanesas solicitando a libertação de Gaddafi devido à deterioração de sua saúde, após o acusado entrar em greve de fome para protestar contra sua detenção sem julgamento.
O estado de saúde de Hannibal Gaddafi, que já sofre de depressão, tornou-se motivo de preocupação adicional na semana passada, quando foi hospitalizado por dores abdominais. Al-Sour sugeriu em seu pedido que a cooperação do Líbano na libertação de Gaddafi poderia ajudar a revelar a verdade sobre o desaparecimento de al-Sadr, indicando possíveis negociações diplomáticas em andamento nos bastidores.




