Política & Mundo
Vitória eleitoral impulsiona mercados argentinos e fortalece governabilidade
Redação
27 de outubro de 2025
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O resultado eleitoral deste domingo representou um cisne negro político, com La Libertad Avanza conquistando 40,79% dos votos e uma vitória inesperada na província de Buenos Aires, superando os cenários mais otimistas das consultorias. Esta performance eleitoral confere ao governo um significativo margem de manobra para os próximos dois anos, permitindo a descompressão das pressões sobre o dólar em um momento em que o esquema cambial era questionado pelos mercados.
O otimismo do mercado manifestou-se imediatamente após o fechamento das urnas, quando o dólar cripto registrou uma abrupta mudança de tendência, caindo US$ 117 em questão de minutos. Por volta das 23 horas, a cotização aparecia nas telas a US$ 1440, distante dos US$ 1551 alcançados na sexta-feira às 18 horas. Esta cotização converteu-se em um termômetro do humor dos investidores, antecipando a reação que teriam no dia seguinte os tipos de cambio financeiros.
"Isto dá muito fôlego ao governo em termos econômicos, mas sobretudo em matéria cambial. Pode-se preparar para as reformas de segunda geração, principalmente a tributária. Amanhã, os títulos irão muito forte para cima, enquanto o dólar seguramente corrigirá, assim como o mercado de futuros", analisou Fernando Camusso, diretor da Rafaela Capital. O especialista destacou que o resultado não estava precificado, com o mercado encerrando a sexta-feira muito negativo e 100% dolarizado.
A vitória de La Libertad Avanza configura um cenário pro mercado, embora nos dias anteriores os investidores demonstrassem pessimismo com o resultado esperado. Esta postura levou os argentinos às urnas quase o dobro de dolarizados em comparação com outras legislativas realizadas desde 2003. Até sexta-feira, o mercado havia questionado o esquema de bandas de flutuação, com o oficial fechando apenas centavos abaixo do teto, apesar das reiteradas garantias governamentais sobre a manutenção da política cambial.
"O mercado chegou à eleição preparado para uma derrota moderada do oficialismo a nível nacional, com o tipo de cambio pressionando o teto da banda cambial e uma demanda de cobertura cambial mais própria de uma eleição executiva que de uma legislativa. Por isso, amanhã deveríamos ver uma reação muito contundente com uma pressão importante à baixa no mercado cambial à medida que avance o desarme da enorme tomada de cobertura dos últimos dois meses", explicou Adrián Yarde Buller, chief economist & strategist da Facimex Valores.
As ações argentinas que cotizam no exterior começaram a mover-se à medida que se conheciam as notícias eleitorais, na ronda overnight. Neste mercado, os papéis do Banco Supervielle destacaram-se às 23 horas com uma escalada de 15,75%, seguidos pelo Galicia (+13,46%) e YPF (+13,06%). Este preço reflete a atividade comercial durante a sessão noturna de domingos a quintas-feiras, entre as 20 horas e as 4 da manhã, quando os mercados regulares estão fechados.
"Creio que a reação do mercado será altamente positiva em princípio, é o que sucede cada vez que vem um cisne negro favorável. Foi um batacazo, sobretudo pela reversão do resultado na província de Buenos Aires. Também evidencia a volatilidade própria da análise argentina. Neste contexto, creio que os mercados esta semana vão ter muita distensão, com melhora nos títulos e nas ações", acrescentou Martín Polo, chefe de estratégia da Cohen Aliados Financeiros.
Para Martín Kalos, diretor executivo da Epyca Consultores, este resultado não estava descontado no mercado pela magnitude de uma vitória "bastante inesperada". O economista considera que isto permitirá gerar certa confiança na capacidade de sustentar o rumo económico que o governo propõe e facilitará a construção de uma governabilidade nos próximos dois anos. Contudo, acrescentou que permanece pendente que o programa económico "seja sustentável".
"No curto prazo, podemos esperar que amanhã rebotem os ativos financeiros, incluindo uma baixa no preço do dólar. É o mais provável, basicamente, porque descomprime uma demanda especulativa respeito de qual era a ação futura do governo. No médio prazo, vai seguir havendo dúvidas e o governo deverá atender a essa incerteza, porque há problemas que se acumularam na prévia eleitoral e que deverão corrigir-se", completou o analista, referindo-se particularmente ao desequilíbrio monetário e financeiro gerado, com taxas de juro inaguantavelmente altas em termos reais e um dólar demasiado apreciado frente às expectativas.




